Sabia que o nosso calendário anual era composto inicialmente por 10 meses?! Foi Rómulo, o lendário fundador de Roma (em meados do séc. VIII), que o desenvolveu, sobrevivendo até ao nosso tempo, sofrendo "apenas leves" modificações através dos séculos! É incrível como uma concepção consegue resistir tanto ao tempo!...
O principal motivo da criação de um calendário é o desejo de organizar, no tempo, os eventos de uma sociedade. Sempre teve um estatuto sagrado, além de servir de identidade cultural (porque culturas diferentes apresentam calendários diferentes, como a chinesa, a islâmica...). Porém, qualquer que seja a sua sofisticação científica, os calendários correspondem apenas a normas para uso da sociedade, mas nunca a resultados de tratados científicos.
O calendário baseia-se em fenómenos astronómicos, sendo os mais importantes os ciclos da Terra, da Lua e do Sol. O dia é dado pela duração de uma volta completa da Terra sobre o seu eixo. O mês é o tempo que demora uma revolução da Lua à volta da Terra. Para os povos primitivos, era o tempo decorrido entre duas Lua Novas sucessivas (mês sideral). A lunação, ou revolução sinódica, dura cerca de 29,5 dias. Por fim, a revolução da Terra à volta do Sol define um ano tropical – intervalo entre equinócios vernais, cerca de 365,2422 dias. A sincronização destes três componentes, nenhum sendo comensurável a outro, enfatiza a complexidade do calendário.
A história do calendário
Grande parte do conhecimento actual sobre os calendários baseia-se em estudos de referência de dois escritores da Antiguidade: Ovídio, poeta romano, 43 a.C. - 17/18 d.C.; e Plutarco, escritor grego, 50 - 120. Ambos tiveram acesso a documentos históricos (hoje desaparecidos) que já na altura - assim relata Ovídio - eram muito antigos!! Acrescido a isso, o calendário foi sendo objecto, ao longo de sucessivos reinados, da aplicação errada das suas regras originais. Sofreu, assim, alterações contínuas na sua extensão e divisão, complicando largamente a sua história. A título de exemplo, quando Júlio César implementa um ano com novas regras, mais restritas, por volta de 46 a.C., surge o 'Ano da Confusão': um ano civil com mais 80 dias que o "normal", prefazendo 445 dias!
Somente após 8 d.C. é que a definição mais pormenorizada do calendário estabiliza totalmente.
O Calendário de Rómulo
O calendário original de Rómulo (por 738 a.C.) terá evoluído do calendário lunar grego (este já derivava do babilónio). Os cálculos efectuados naquela altura possivelmente terão apontado para uma ano de 10 lunações, cada uma entre 30 e 31 dias. (Não se sabe bem o que acontecera aos restantes 61,25 dias que faltavam para completar um ano tropical.) Será talvez por isso, que o ano foi composto por 10 meses, seis de 30 dias, e quatro de 31 dias, perfazendo um total de 304 dias.
A cada um dos primeiros quatro meses foi atribuído carácter simbólico. Essa simbologia ainda é algo discutida, já que habitualmente são aplicados dois significados muito distintos a cada um dos meses. Aos restantes meses aplicaram-se nomes numerais. Os meses constituintes eram, então: Martius, Aprilis, Maius, Junius, Quintilius, Sextilis, Septembris ou September, Octobris ou October, Novembris ou November, e Decembris ou December. Na tabela apresentada na página seguinte poderás ainda descobrir os significados de cada um dos meses.
Pode ainda depreender da tabela que o ano começava em Março, não existindo os meses de Janeiro e Fevereiro. E acabava em Dezembro – o décimo mês, e não o décimo segundo, como, por vezes, se conclui. Além disso, o quinto e o sexto meses chamavam-se inicialmente Quintilius e Sextilis – os nomes em uso actualmente (Julho e Agosto) apareceram mais tarde, de uma forma bastante peculiar!
Nº mês | Mês actual (português) | Mês Romano | Derivação possível (i) | Derivação possível (ii) | N.º dias |
1 | Março | Martius | Representa Marte (filho de Juno e pai lendário de Rómulo e Remo) deus da guerra; achava-se que o início do ano era uma boa época para começar as guerras! | Deriva de mas ou maris, palavras romanas que se podem interpretar como a força criadora juvenil. | 31 |
2 | Abril | Aprilis | Representa Afrodite, deusa da Beleza, como referência à chegada da Primavera. | Significava "seguinte", "segundo"; ou, então, "abrir", "continuação" (notar a semelhança). | 30 |
3 | Maio | Maius | Representa Maia, a deusa do crescimento (permanece a dúvida se das plantas, devido à planta maia). Maia é a mãe de Mercúrio. | Maius significava deus supremo, o deus dos deuses - Júpiter. | 31 |
4 | Junho | Junius | Representa Juno - deusa rainha suprema (irmã e esposa de Júpiter), também deusa dos casamentos. | 30 | |
5 | Julho | Quintilius | quintus mensis = "quinto mês" em latim | 31 | |
6 | Agosto | Sextilis | sextus mensis = "sexto mês" em latim | 30 | |
7 | Setembro | Septembris ou September | septimus mensis = "sétimo mês" em latim | 30 | |
8 | Outubro | Octobris ou October | octavus mensis = "oitavo mês" em latim | 31 | |
9 | Novembro | Novembris ou November | nonus mensis = "nono mês" em latim | 30 | |
10 | Dezembro | Decembris ou December | decimus mensis = "décimo mês" em latim | 30 |
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